Jornalista Mário Ramires fala da importância da imprensa no debate das ideias políticas
05/06/2020 12:06

Na continuidade do ciclo de videoconferências dedicadas ao tema "As ideias políticas: passado, presente e futuro", decorreu, no dia 19 de Maio de 2020, pelas 16H30, a segunda edição desta iniciativa, organizada pelo Prof. Doutor Manuel Monteiro, que contou com a presença do Dr. Mário Ramires, administrador e director do "Jornal Sol" e do "Jornal i", para falar da "Importância da imprensa no debate das ideias políticas".
O Dr. Mário Ramires é, também, o único accionista e Presidente do Conselho de Administração da editora Newsplex, sociedade detentora destes dois títulos, desde 2015.
Este evento situa-se no âmbito da unidade curricular de "Ideias políticas no mundo Ocidental", do 1.º ano da licenciatura em Relações Internacionais, da qual o Prof. Doutor Manuel Monteiro é regente, e tem como objectivo promover a reflexão e o debate sobre a matéria leccionada nesta unidade curricular, e de proporcionar aos seus estudantes a aprendizagem sobre as diferentes ideias políticas através dos seus próprios representantes.
Nesta sua prelecção, o Dr. Mário Rodrigues começou por fazer uma retrospectiva histórica do jornalismo português a partir da revolução democrática portuguesa de 1974, sem esquecer a extrema relevância da fundação, em 1973, do semanário "Expresso", um jornal que marcou a sociedade portuguesa pela "[...] intervenção cívica e debate de ideias em prol do desenvolvimento da democracia e imposição dum novo regime social, politico e cultural [...]".
Na opinião do administrador e director dos jornais "Sol" e "i", a importância da imprensa para o debate livre de ideias foi fundamental para solidificação da democracia, destacando mais uma vez o papel do "Expresso" neste processo. Um dos motivos que viabilizou a criação de um ambiente democrático e pluralista, dentro das redacções dos jornais, foi a coexistência de jovens já com licenciaturas na área do jornalismo, junto de jornalistas mais antigos, com "tarimba", na expressão usada por Mário Ramires, vindos das esferas do Direito ou da Economia, entre outras, sendo que este fenómeno criou as bases para a investigação independente e isenta, principalmente após as primeiras eleições legislativas portuguesas, em 1976, e a amenização dos ambientes político e social.
Prosseguindo a resenha histórica dedicada ao jornalismo e ao debate de ideias, o interlocutor salientou a importância de dois títulos, que na sua opinião foram determinantes para a compreensão e intervenção, em determinados momentos da sociedade portuguesa, o "Diário de Notícias", jornal com uma linha editorial alinhada com o regime em vigor, e o "Independente", por razões absolutamente opostas.
O advento das televisões privadas, no início dos anos 90, decorrente do boom do investimento publicitário que permitiu a criação de grandes grupos económicos, que não possuíam somente a perspectiva informativa, de debate político e social, mas também a dimensão de entretenimento, foi abordado pelo Dr. Mário Ramires como um primeiro momento de crise na imprensa. Esta indústria, gerada mediante grandes investimentos publicitários, revelou-se fatal para a imprensa com menores recursos. Com efeito, explicou, os valores praticados nas televisões obrigaram os jornais a reduzir o preço das suas páginas e da sua publicidade. Com esta medida, sofreram os salários dos profissionais e as receitas da imprensa.
No mesmo dia em que foi tornado público o modelo de assistência do Estado aos grupos de média, e em relação ao qual Mário Ramires deixou críticas alusivas a esses critérios, foi salientado que "[...] a crise da comunicação social é global e tão mais dramática quanto mais pequeno é o mercado [...]", e Portugal com um mercado reduzido face ao número elevado de órgãos de comunicação social existentes, e com a exponencial democratização da informação, seja através das plataformas digitais ou através da rádio ou por via audiovisual, destacando aqui a existência de 4 canais de televisão dedicadas à informação, obrigará a imprensa a um repensar da estratégia.
Todos estes factores, aliados ao preço das plataformas on-line, ao preço das edições digitais, à repentina mudança no contexto informativo e comunicacional emergente dos processos de digitalização, liberalização e globalização, fez com que a "[...] percepção de valor dos conteúdos passe a ser nula por parte do público [...]". A solução, no entender de Mário Ramires, passará pelo encerramento dos conteúdos digitais gratuitos, única forma destes canais de informação se perfilarem como verdadeira concorrência no mercado.
Depois desta exposição, a audiência, formada essencialmente por estudantes das licenciaturas em Relações Internacionais e Direito da Universidade Lusíada e da Universidade Lusíada - Norte (Porto), foi convidada a apresentar as suas questões que versaram sobre alguns dos assuntos mais prementes da actualidade, tais como as ditas fake news, a manipulação dos conteúdos informativos - não obstante a veracidade desse mesmo conteúdo - o sensacionalismo, as pressões e condicionalismos que hoje os jornalistas, editores e directores, e até mesmo, em alguns casos, accionistas, estão sujeitos.
Dentro do fenómeno das fake news, Mário Ramires sublinhou a emergência de criação de regulamentação da publicidade, a maior fonte de receitas destes conteúdos, no ambiente digital, de forma a garantir uma maior transparência no investimento feito. Por outro lado, referiu que as transformações digitais estimularam a difusão de conteúdos on-line onde os direitos de autor não são salvaguardados, dando o exemplo da livre partilha de conteúdos nas redes sociais.
O Prof. Doutor Manuel Monteiro é regente da unidade curricular de "Ideias políticas no mundo Ocidental", da licenciatura em Relações Internacionais, coordenador dos ciclos de estudos em Relações Internacionais na Universidade Lusíada - Norte (Porto) e investigador integrado no Centro Lusíada de Investigação em Política Internacional e Segurança. A referida videoconferência foi transmitida via Microsoft Teams, com difusão simultânea no canal do Youtube da Universidade Lusíada. A próxima conferência, a terceira deste ciclo, será transmitida nas mesmas plataformas, no dia 22 de Maio, às 15H00, e terá como convidado o Dr. José Ribeiro e Castro, que falará sobre a "Democracia cristã".