Secretário-Geral Adjunto do Partido Socialista debate o pensamento socialista no presente

15/06/2020 15:06

Secretário-Geral Adjunto do Partido Socialista debate o pensamento socialista no presente

Na continuidade do ciclo de videoconferências intitulado "As ideias políticas: passado, presente e futuro" decorreu, no dia 2 de Junho de 2020, pelas 17H00, a quarta edição desta iniciativa, desta vez dedicada ao tema "Pensamento socialista no presente" que contou com a presença do Mestre José Luís Carneiro, Secretário-Geral Adjunto do Partido Socialista e Antigo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas (XXI Governo Constitucional de Portugal).

Este conjunto de conferências está a ser desenvolvido no âmbito da unidade curricular de "Ideias políticas no mundo Ocidental", do 1.º ano da licenciatura em Relações Internacionais, da qual o Prof. Doutor Manuel Monteiro é regente, com o objectivo de promover a reflexão e o debate sobre a matéria leccionada e proporcionar aos estudantes a aprendizagem sobre as diferentes ideias políticas através dos seus próprios representantes. 

No início da prelecção, o convidado começou por exprimir a importância que este tipo de iniciativas ligadas ao debate das ideias políticas, e à sua história, pode contribuir para o estímulo dos jovens sobre estas matérias, nomeadamente sobre a origem da democracia em Portugal e dos seus partidos políticos.

A comunicação do Mestre José Luís Carneiro foi distribuída em três segmentos cronológicos, detendo-se em grande parte na época das primeiras manifestações históricas do pensamento socialista em Portugal, desde finais do século XIX e da fundação do Partido Socialista Português (PSP), em 1875. Neste período, o orador atribuiu grande destaque à acção de Antero de Quental e ao contributo que emanou da sua linha de pensamento no sentido de "[...] contribuir para a mudança social não pela via revolucionária mas pela via reformista [...]". O escritor e poeta e um dos fundadores do PSP acreditava que o reformismo era a via para a evolução da sociedade, defendendo o entendimento entre proletários e burgueses sem a intervenção institucional do Estado.

O Partido Socialista Português era detentor de uma matriz anarquista, que era nesta época a corrente melhor assimilada pelos trabalhadores, mediante uma superior organização dos grupos anarquistas e colectivistas, que, influenciados pelas posições de Mijaíl Bakunin, lhes permitia uma implantação global entre o proletariado do resto da Europa.

A  segunda etapa da exposição do Secretário-Geral Adjunto do PS foi preenchida com a temática da transição política e consolidação dos valores estruturantes democráticos que resultaram da Revolução de Abril de 1974, após o longo período de supressão total das organizações livres, políticas e sindicais, criadas durante a Primeira República (1910 - 1926), e antes do advento da Ditadura Militar e subsequente era do Estado Novo (1933 - 1974).

O Dr. Mário Soares (1924 - 2017) foi, neste momento, a personalidade política mais destacada, como um dos fundadores, em 1973, na Alemanha, do Partido Socialista (PS) português, que tinha brotado directamente da organização da Acção Socialista Portuguesa, gerada em 1964, da qual foi, também, co-fundador. O orador referiu, ainda, o contributo do Dr. Mário Soares na visão que este projectou após a queda da ditadura, começando com o afastamento da matriz marxista do partido e, posteriormente, com o reconhecimento do PS como membro integrante da Internacional Socialista.

Durante estes anos de transição política e democrática, o orador fez um relato sobre a situação geral do país, realçando a fractura originada pela guerra colonial e pelo processo de descolonização, acrescentando, ainda, as transformações culturais, políticas e ideológicas no tecido social, o elevado analfabetismo, a escassa industrialização e urbanização do país e o seu isolamento internacional, fruto da política isolacionista das décadas precedentes. Nesta conjuntura, referiu que foi de vital importância o trabalho desenvolvido pelos partidos do PS, do PSD e do CDS relativamente ao processo democrático em Portugal, caracterizado pelo pluralismo e por uma democracia parlamentar com base numa identidade constitucional e incorporada num contexto de liberdade política e social.

O político salientou, também, algumas das deliberações tomadas pelo Partido Socialista para a modernização da jovem democracia do país, nomeando as mais importantes, como foram o pedido de adesão à então Comunidade Económica Europeia, a manutenção de uma relação de cooperação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a manutenção dos compromissos de política externa, a adesão à Declaração Universal dos Direitos Humanos e a criação do Serviço Nacional de Saúde.

Na terceira parte da apresentação, o Secretário-Geral Adjunto do PS apresentou as opções programáticas mais recentes deste partido e explicou de que forma os valores e princípios se inserem na sua linha de protocolo e como são traduzidos na execução de opções políticas públicas, indicando alguns exemplos.

Depois desta exposição, presenciada essencialmente por estudantes das licenciaturas em Relações Internacionais e Direito da Universidade Lusíada e da Universidade Lusíada - Norte (Porto), o político foi questionado sobre alguns dos temas da actualidade, assim como acerca das medidas previstas, de âmbito político e económico, para a fase pós-pandémica. Outras das preocupações reveladas pelos participantes relacionaram-se com o nascer das forças políticas de bloqueio e em que medida estas lidam com a alienação dos ideários sociais, cívicos e políticos dos cidadãos. Vinculado, ainda, a esta matéria, o Mestre José Luís Carneiro foi interpelado sobre o crescente desinteresse e desmotivação da população em relação à política e aos políticos, aliados à agravante constatação deste fenómeno compreender todas as faixas etárias do eleitorado português.