COMO CHEGAR A DIRECTOR-GERAL DA SUBSIDIÁRIA DE UMA DAS MAIS IMPORTANTES MULTINACIONAIS FARMACÊUTICAS

30/05/2005 15:05

"Foram vários os factores que contribuíram para que isso acontecesse, no entanto penso que a principal razão terá sido a experiência adquirida no mercado de genéricos Português durante os últimos seis anos. Foi uma experiência enriquecedora, pois tive a oportunidade de actuar neste mercado sob três perspectivas diferentes, como Delegado de Informação Médica, como Chefe Regional de Vendas e como Marketing Manager de uma multinacional farmacêutica." disse o Dr. Rui Santos, director-geral da Ranbaxy Portugal, aluno do Master em Marketing Farmacêutico da Universidade Lusíada Porto.

COMO CHEGAR A DIRECTOR-GERAL DA SUBSIDIÁRIA DE UMA DAS MAIS IMPORTANTES MULTINACIONAIS FARMACÊUTICAS

Sendo a Ranbaxy um “player” no top ten internacional do mercado de genéricos e sendo a multinacional farmacêutica com maior crescimento nesse mercado, com posições de destaque na América do Norte e na Ásia, com um projecto de expansão na Europa do qual faz parte Portugal, compreende-se que tenha privilegiado a minha experiência no mercado Português. No entanto existem outros factores que tiveram influência nessa escolha, o facto de apenas ter 36 anos e de possuir algumas características pessoais que se enquadram num espírito muito próprio da jovem equipa da Ranbaxy. Esse espírito faz com que as mais de 8000 pessoas que trabalham na Ranbaxy se auto intitulem “Ranbaxyanos”, pois sentem que fazem parte de um grande projecto em que cada um deles é uma peça fundamental. 2 - Qual o seu percurso profissional nesta área? Após três anos como vendedor e já com 20 anos de idade, iniciei a minha actividade como Delegado de Informação Médica na Lusoterapia (Grupo Servier), a que se seguiram dois anos na Roche Farmacêutica, quatro anos no Laboratório Normal e cerca de três anos na Byk Portugal. Ainda como DIM entrei para a Alpharma Aps, onde durante os últimos seis anos tive o privilégio de trabalhar com uma equipa de profissionais fantástica que se entrega de alma e coração à sua actividade no mercado de genéricos. Ao fim de dois anos como Delegado, fui convidado a assumir a Chefia de Vendas da Região Norte/Centro e posteriormente das Ilhas. Durante três anos nessa função assisti ao crescimento do mercado de genéricos, tendo tido recentemente um papel ainda mais interventivo no desempenho da função de Marketing Manager. 3 - Como descreveria a sua função? Qual a sua rotina diária? Ainda está em fase de adaptação? Poucas pessoas terão tido o inigualável prazer de estruturar de raiz a subsidiária de uma multinacional farmacêutica. Nesta fase inicial e sendo ainda o único funcionário da Ranbaxy Portugal todas as tarefas da mais básica à mais qualificada passam por mim. Desde tarefas básicas como a escolha do local para a sede da Empresa, as telecomunicações, as viaturas, às tarefas mais qualificadas como a submissão de produtos, construção de portfolio e forecast, tudo é executado a um ritmo alucinante. O meu dia de trabalho começa por norma às oito da manhã, alinhado com o horário de outros países europeus. Acho curioso que pergunte se ainda estou em fase de adaptação, pois adaptação é a palavra que mais se adequa quando tento caracterizar o meu dia de trabalho. A variedade de tarefas, a importância de cada uma delas, a forma como as prioridades se alteram ao longo do dia, sendo que todas as tarefas são prioritárias, fazem com que a necessidade de adaptação seja uma constante. 4 - Qual foi a importância do Master em Marketing Farmacêutico que concluiu recentemente? O Master em Marketing Farmacêutico surge para mim como um passo natural após a conclusão da Licenciatura em Gestão de Marketing. O Master é a solução inovadora que há muito faltava para quem quer obter formação isenta, transparente e actual na Industria Farmacêutica, fugindo à tradicional formação “orientada” obtida dentro das empresas. Qualquer Delegado de Informação Médica, Chefe de Vendas ou Product Manager que pretenda aspirar a uma carreira na Industria Farmacêutica pode encontrar no Master um bom trampolim, pois o plano curricular é de tal forma abrangente, prático e inovador, que muda para sempre a perspectiva que temos da Industria. Encontrei entre o grupo de alunos, qualquer uma das funções atrás referidas, assim como alunos sem experiência nenhuma neste mercado. Para estes alunos o Master torna-se fascinante, pois de um momento para o outro têm a oportunidade de conviver, efectuar trabalhos de grupo e partilhar ideias com pessoas muito experientes na área, construindo uma rede de contactos muito favorável para quem aspira trabalhar nesta Industria. O facto de todos serem alunos varre por completo com os graus hierárquicos e com a distância que muitas vezes se gera entre colegas de empresas concorrentes. Cada função tem coisas boas e coisas menos boas, mas num mercado competitivo como aquele em que vivemos, tendencialmente somos egoístas, e quando olhamos apenas para os nossos interesses deixamos de ter uma perspectiva global. A componente prática do curso obriga-nos a vestir a pele da maioria das funções e cargos da Industria, e ao fazer isto passamos a compreender melhor as outras funções e passamos a ter uma perspectiva mais abrangente, menos egoísta e mais madura. 5 - Que características pessoais considera essenciais para um bom desempenho da sua actividade? A fórmula é muito simples, é necessário ser um generalista, conhecer todos os aspectos vitais para o negócio e conseguir reunir os melhores profissionais em cada uma das áreas, sabendo delegar tarefas, responsabilidades e recompensando o esforço, a dedicação e os resultados. É necessário ter uma perspectiva global do negócio mas não ter medo de ir ao pormenor, ponderar mas não ter medo de arriscar, ser pró activo e não reactivo, ser confiante, transmitir essa confiança à equipa e acima de tudo usar o bom senso. 6 - Dentro da empresa, quais são as suas linhas de reporte e vice-versa? (Não aplicável nesta fase inicial) 7 - Quais, a nível interno e pessoal, os seus principais desafios actuais? O principal desafio é fazer da Ranbaxy Portugal, uma empresa líder no mercado de genéricos, com bases sólidas e com um crescimento sustentado, pondo em prática tudo o que aprendi ao longo destes anos evitando cometer erros que vi cometer no passado, construindo uma equipa de trabalho com profissionais jovens mas experientes, que saibam trabalhar em grupo aceitando as diferenças. 8 - Que leitura faz do panorama farmacêutico nacional? Qual, na sua opinião, o papel do genéricos no longo prazo? Nos últimos dois anos o panorama farmacêutico nacional agitou-se com o rápido crescimento dos genéricos. Depois de um primeiro impacto que originou uma forte reacção por parte das empresas de investigação, parece haver neste momento um ambiente mais favorável à convivência entre originais e genéricos, numa altura em que algumas “cópias”, fruto da legislação se movem para o lado dos genéricos. O que terá que acabar brevemente é a necessidade de se colocarem rótulos de bons ou maus da fita, seja aos genéricos, seja aos originais, pois quem continua a defender esta rotulagem e necessidade de separação, está condenado a lutar sozinho remando contra a maré. Basta olhar para o lado, para a “velha Europa” e verificar que o que está a acontecer agora em Portugal não tem retorno, estivesse a população devidamente informada, tivesse a classe médica sido politicamente acarinhada e convidada a prescrever genéricos, já estes teriam um crescimento maior e mais sustentado. Independentemente da perspectiva que se tenha, seja ela da classe politica, médica, farmacêutica, da Industria ou da população em geral, não se pode fugir ao inevitável, os genéricos vieram para ficar e terão no futuro um papel ainda mais importante do que aquele que já desempenham no momento. A consciência e a vontade de cada uma das partes em assumir esta realidade de uma forma clara e objectiva, sem medo de “papões” e pondo de lado os tabus é que ditará a salutar convivência entre genéricos e originais. Num mercado em que as regras estão bem definidas e em que ambos desempenham papeis importantes no panorama da saúde em Portugal, em que uns trazem inovação e outros permitem o acesso à medicação por parte das populações mais carenciadas, ambos contribuem para a melhoria da qualidade de vida dessa mesma população, penso que o papel dos genéricos em Portugal a longo prazo, depende do que todos, individualmente e em conjunto, fizermos no futuro, seja nas pequenas acções do dia-a-dia que dependem de cada um de nós, seja nas grandes acções que estão nas mãos do poder politico e institucional. 9 - Qual a sua opinião sobre as novas leis de acesso ao Serviço Nacional de Saúde por parte dos DIM? As novas leis de acesso dos DIM ao SNS surgem porque existem demasiados DIMs para a dimensão do nosso mercado, sendo que talvez nem todos estejam devidamente qualificados para o exercício da profissão... Claro que este estado de coisas pode começar a colocar em causa a salutar relação que sempre existiu entre a classe médica e a indústria farmacêutica. Sempre privilegiei a qualidade em detrimento da quantidade, pois acredito que quando procuramos a qualidade dificilmente encontramos um limite e deparamo-nos constantemente com a oportunidade de melhorar as nossas capacidades, superando os novos desafios. No entanto não é fácil, consome tempo e nem todas as pessoas têm a capacidade ou mesmo a vontade de se superar a si próprias nestes desafios. Sempre foi mais fácil atalhar caminho, procurar soluções rápidas, nem que sejam soluções de curto prazo, pois à boa maneira Portuguesa, quem vier atrás que feche a porta. Quando apostamos na quantidade, a determinada altura encontramos o nosso limite pois o espaço em que actuamos é limitado e quando o enchemos demasiado atingimos o ponto de ruptura. O mesmo acontece quando tentamos encher demais um balão, a determinada altura ele rebenta. A Industria já percebeu há muito tempo que esse ponto está a chegar, o problema é que ninguém tem a coragem de inverter a estratégia enquanto outros concorrentes continuarem a encher o balão. Para mim é obvio que, nesta fase, tem que haver controlo sobre a forma como se desenrola esta actividade se queremos manter sã esta relação, mas tenho pena que não exista um auto controlo no sentido de evitar que outros que não os intervenientes directos, se vejam na obrigação de estabelecer unilateralmente as regras do “jogo”. Penso pois que o caminho passa pela urgente qualificação e redimensionamento dos DIM, processo este que deve ser liderado pela indústria farmacêutica claro. 10 - Como imagina o sector da Indústria Farmacêutica daqui a cinquenta anos? Que evolução terá? É difícil imaginar a Industria Farmacêutica daqui a cinquenta anos, da mesma forma que dificilmente alguém conseguia imaginar há cinquenta anos atrás, como seria a Industria hoje. Mas há certos factos que me parecem prováveis, nos próximos anos continuaremos a assistir à concentração da Indústria, algumas fusões e aquisições são inevitáveis. Outras grandes empresas tentarão estabelecer parcerias com empresas mais pequenas no sentido de encontrarem sinergias, a mais pequena investiga e desenvolve, e a maior comercializa. As empresas de biotecnologia terão uma boa fatia do mercado, as empresas de genéricos terão outra boa fatia do mercado e a Indústria actual ficará concentrada, dependente de si própria e da sua capacidade de investigação de grandes moléculas para grandes mercados. Ao mesmo tempo novas empresas surgirão, fruto da investigação de novas moléculas para mercados mais pequenos, adoptando uma estratégia de nicho.