PORTUGAL TEM PADRÕES MUITO BAIXOS EM MATÉRIA DE EDUCAÇÃO

04/08/2003 8:08

Jan Fagerberg, Professor da Universidade de Oslo, defende que o país deve apostar mais na formação de especialistas em áreas técnicas.
Fonte: Diário Económico

PORTUGAL TEM PADRÕES MUITO BAIXOS EM MATÉRIA DE EDUCAÇÃO

DE - Portugal é um caso interessante na análise que fez dos processos de ‘catching up’, isto da capacidade de uma economia em reduzir o ‘gap' de produtividade e crescimento face a um pais líder. Porquê? Jan Fagerberg - Desde 1987 que escrevo sobre porque é que alguns países conseguem «apanhar» o líder e outros não. Foi este o tópico que escolhi para uma conferência em que participei recentemente, na Fundação Calouste Gulbenkian. Segundo esta perspectiva, Portugal é um país muito interessante pois permite estabelecer uma comparação entre os novos países industrializados da Europa e os novos países industrializados da Ásia. Que conclusões retirou em relação à economia portuguesa? Acho que Portugal tem alguns problemas estruturais sérios. Um deles, que destaquei na conferência, tem directamente a ver com as marcas deixadas pelo longo regime de Salazar, designadamente no que respeita ao atraso na educação. Fiquei muito surpreendido quando observei as estatísticas recentes da OCDE e constatei que Portugal se encontrava no fundo das tabelas. Os países que fizeram um 'catching up' rápido investiram muito em áreas educativas técnicas. Portugal tem um problema a esse nível. E ainda estamos a tempo de apanhar o líder? Nunca é tarde demais para pensar e aplicar novas políticas económicas, industriais ou tecnológicas. O que não faltam são exemplos de países que estiveram em situações muito piores do que aquelas em que Portugal hoje se encontra. Não há razões para pessimismo. Penso que há ainda muitas coisas que se podem fazer, usar a imaginação, por exemplo. Quais são então os aspectos que considera determinantes para o ‘catching up'? Bem, fiquei bastante surpreendido por constatar que Portugal está, actualmente, numa situação idêntica à de outros países mais desenvolvidos. Por exemplo, o número potencial de estudantes tem vindo a diminuir devido às transformações demográficas. Mas, caso a minha percepção esteja correcta, reparo também que o Governo está a usar esse argumento para poupar algum dinheiro na área educativa. Considero que medidas desse género são verdadeiramente disparatadas. É preciso não esquecer que os padrões portugueses são ainda muito baixos em matéria de educação. O que pode ser feito para resolver o problema? Acho que se deviam estabelecer objectivos para o investimento em educação e inovação e assumir compromissos de longo prazo neste domínio. Não basta só reforçar os investimentos em educação, é preciso também definir em que áreas e em que tipo de competências é que se deve apostar. O 'upgrade' industrial e o 'catching-up' da economia só se poderão atingir se os países tiverem uma visão holística das suas políticas. Costumo apontar como exemplo Coreia e Singapura, que foram capazes de aumentar o número de estudantes em áreas técnicas (ciências, engenharias) e, em simultâneo, criar um mercado de emprego que aproveitou, por assim dizer, as competências dessas pessoas. Em Portugal isso poderá não ser assim tão óbvio. Os professores, por exemplo, são o grupo profissional mais afectado pelo aumento do desemprego... A economia portuguesa precisa muito de pessoas talentosas e bem formadas. Acho que uma boa estratégia para Portugal passa por aumentar a qualidade da sua força de trabalho, de forma a conseguirem-se criar bases para implementar políticas de inovação. A existência de pessoas de mente aberta, bem formadas, não deve ser um exclusivo deste ou daquele sector. Elas devem estar na administração pública, nas empresas, nas associações... Pode-me dar exemplos de países bem sucedidos no ‘catching-up'? Os países asiáticos. Não só por via do desenvolvimento em educação, mas também pela forma como integraram a tecnologia do exterior e ergueram as suas estruturas de investigação. Neles o sistema de inovação funciona. Por que é que a inovação continua a ser tão importante na economia? Sem inovação não há crescimento económico. A inovação é a fonte do crescimento. Se ainda usássemos as tecnologias de há 50 anos, o mundo seria certamente um sítio muito pior para viver. A inovação confere significado à vida das pessoas, permite-lhes influenciar a qualidade de vida e as suas condições de trabalho.